Por Paulo Fernandes para rockontro.com.br
O GRUNGE GRUNHE NO HOLLYWOOD ROCK
Nome feio esse tal de grunge, sempre me lembra grunhir. Quando a mídia voraz voltou seus olhos e garras para Seattle no início da década de 1990, eu fiquei quieto no meu canto esperando algo de novo e consistente no rock.
Foi quando me deparei, na conceituada revista semanal Veja, com a foto do disco “Nevermind” do Nirvana. Era uma reportagem sobre novos nomes da música mundial e havia também a capa do disco “Shepherd Moons” da Enya. Achei a capa muito bacana e pelo nome Nirvana pensei, a princípio, se tratar de música new age, mas alguém me disse que o som não correspondia à capa. Fiquei quieto.
Nirvana no Hollywood Rock
Então calhou de, em uma noite insone, eu ligar o televisor e dar de cara com a transmissão do 4º Hollywood Rock, festival de 1993 no Brasil, e quem estava tocando? Aquela banda de Seattle que pegou emprestado seu nome das religiões indianas - Nirvana: “estado permanente e definitivo de beatitude, felicidade e conhecimento, meta suprema do homem religioso, obtida através de disciplina ascética e meditação” – Dicionário Houaiss.
O que vi, e ouvi, não se parecia em nada com o Nirvana budista. Uns sujeitos tocando propositadamente mal, uma música repetitiva de 2 estágios: rápido – lento - rápido – lento... Detestei, ainda mais que eles pareciam estar se lixando para a plateia.
REDENÇÃO SEM ATINGIR O NIRVANA
Pensei que meu incipiente interesse no grunge havia morrido naquela noite.
Porém minha alma sempre anseia pela elevação, em atingir o Nirvana (o estado espiritual) –só espero que lá não toque Nirvana (a banda), e continuei meu caminho com olhos e ouvidos atentos.
E a busca me levou a Caldas Novas, mais precisamente à discoteca do Neno. Quando lá cheguei estava tocando uma música sensacional: pesada, sons elaborados de guitarra e um vocalista com uma bela voz de barítono. Era Even Flow do Pearl Jam.
UM DISCO NOTA 10 + 1
Não precisei, naquele momento, escutar mais nenhuma música de “Ten”, o primeiro disco do “Clash de Seattle” (O Nirvana é o Sex Pistols), deixei tal prazer para quando chegasse em casa.
Estou certo que “Ten” é bom justamente pelo ponto em que foi criticado pelos puristas dogrunge na época de seu lançamento: o Pearl Jam não se prendia ao rock básico e primário de seus contemporâneos e alçava vôos maiores incorporando influências setentistas de baluartes do hard rock, como o Led Zeppelin (daí minha comparação entre o Pearl Jam e o Clash, este também havia extrapolado as fronteiras do punk).
O disco, apesar dos temas espinhosos das letras de Eddie Vedder (depressão, injustiças sociais, suicídio, solidão), tem a sua parte instrumental muito rica: forte, nervosa e melodiosa, gestada que foi em longas jam-sessions promovidas pelos instrumentistas do Pearl Jam, partindo principalmente das ideias (riffs poderosos) do guitarrista Stone Gossard e do baixista Jeff Ament, amparados por Mike McCredy (guitarra) e Dave Krusen (bateria). Eddie Vedder chegou depois com suas contundentes letras.
É um disco excelente do começo ao fim, o que acabou por eclipsar um pouco os ótimos álbuns posteriores do grupo, ficando como marco definitivo da música do Pearl Jam.
FAIXAS
1) Once (Vedder / Gossard)
2) Even Flow (Vedder / Gossard)
3) Alive (Vedder / Gossard)
4) Why Go (Vedder / Ament)
5) Black (Vedder / Gossard)
6) Jeremy (Vedder / Ament)
7) Oceans (Vedder / Ament / Gossard)
8) Porch (Vedder)
9) Garden (Vedder / Ament / Gossard)
10) Deep (Vedder / Ament / Gossard)
11) Release* (Krusen / Vedder / Ament / McCredy / Gossard)
* contém a faixa oculta Master/Slave.
MÚSICAS
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