Disco Nota 11: “Disraeli Gears” – Cream

domingo, 18 de janeiro de 2015

por Paulo Afonso Fernandes para rockontro.com

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A NATA DO ROCK INGLÊS

Quando decidiram juntar-se para formar um grupo em 1966, eles já eram reconhecidos na Inglaterra como grandes músicos em seus respectivos instrumentos: Ginger Baker (bateria), Jack Bruce (baixo) e Eric “God” Clapton (guitarra). Clapton, um apaixonado pelo blues, construiu sua reputação tocando com os Yardbirds e com os Bluesbreakers de John Mayall; Bruce e Baker, músicos de aptidões jazzísticas, haviam tocado juntos na Graham Bond Organization e, segundo consta, se detestavam.
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E foi com essa bagagem de superlativos e mais os que foram cunhados depois: supergrupo, power-trio, etc., que o Creamcomeçou sua curta, pouco mais de 3 anos, e revolucionária trajetória musical.
Apesar de todo o peso que o nome Eric Clapton tem hoje, posso dizer com segurança que o grande responsável pelo estilo inconfundível e pelo direcionamento musical do Cream foi Jack Bruce. Era sua primeira grande chance como vocalista e compositor e ele não a desperdiçou.

SHOWS MEMORÁVEIS E O PRIMEIRO DISCO

O Cream trouxe para suas apresentações ao vivo algo que era corriqueiro nos shows de jazz: a improvisação. Cada um dos 3 músicos, partindo de um tema, improvisava e solava de forma independente, mas incrivelmente coesa. Um ótimo exemplo disso é a música Spoonful (Willie Dixon) que em seu registro ao vivo no álbum “Wheels of Fire” dura mais de 16 minutos, graças aos vôos de improvisação e virtuosismo instrumental. A mesma música havia sido gravada, em estúdio, anteriormente pelo Cream, em seu disco de estréia “Fresh Cream”, e durava cerca de 6 minutos.
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“Fresh Cream”, o primeiro álbum, foi lançado em 1966 e trazia covers de velhos clássicos de blues e algumas composições de Bruce e Baker. Esse disco já mostrava a direção para o estilo do grupo, rotulado de blues psicodélico, e que seria consolidado em seu segundo álbum.

AS ENGRENAGENS DE DISRAELI

Logo nas primeiras vezes que escutei “Disraeli Gears”, notei que algumas músicas seriam impossíveis de se reproduzir ao vivo – com apenas 3 executantes no palco – tal é o grau de refinamento desse disco. Lançado em 1967, nele a banda usa e abusa das técnicas de estúdio e sobreposição de camadas sonoras. Foi com o trabalho seguinte “Wheels of Fire”(álbum duplo com 1 disco de estúdio e outro ao vivo) que vi que o Cream era na verdade duas (no mínimo) bandas distintas e entrelaçadas, e ambas muito boas.
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A base é o blues, mas o hard-rock e a psicodelia estão presentes dando o tempero que influenciou muita gente boa que veio depois do Cream. Clapton, normalmente não muito ligado a efeitos eletrônicos, usa o pedal wah-wah e efeitos de distorção e sobreposição e, além disso, se aventura mais nos vocais. O baixo de Bruce é forte e pesado. A bateria segura e jazzística de Baker completa essa obra-prima.
A capa, um trabalho multicolorido do artista Martin Sharp, reforça a proposta psicodélica do disco.

FAIXAS

Lado A
1) Strange Brew (Clapton, Felix Pappalardi, Gail Collins)
2) Sunshine of Your Love (Clapton, Bruce, Pete Brown)
3) World of Pain (Pappalardi, Collins)
4) Blue Condition (Baker)

Lado B

1) Tales of Brave Ulysses (Clapton, Martin Sharp)
2) S.W.L.A.B.R. (Bruce, Brown)
3) We’re Going Wrong (Bruce)
4) Outside Woman Blues (Arthur Reynolds)
5) Take It Back (Bruce, Brown)
6) Mother’s Lament (tradicional)

CURIOSIDADES

  • Sunshine of Your Love é um dos maiores sucessos do Cream e uma das poucas músicas desse disco que foram executadas ao vivo;
  • Esse estranho título de música: S.W.L.A.B.R. é a abreviatura para She Was Like A Bearded Rainbow;
  • O título do disco nasceu de uma conversa sobre bicicletas entre Clapton e Baker e da intervenção de um membro da equipe técnica da banda que querendo dizer “derailleur gears” (engrenagens de desvio) pronunciou “Disraeli gears” (engrenagens de Disraeli). Benjamin Disraeli foi um primeiro-ministro britânico do século XIX;
  • Além de fazer a arte da capa, Martin Sharp co-escreveu Tales of Brave Ulysses.

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