O Mundo Fascinante dos Discos

domingo, 26 de outubro de 2014

Por Paulo Fernandes para rockontro.com

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AMOR TÁCTIL
Caetano Veloso disse em sua música Livros: “Os livros são objetos transcendentes / Mas podemos amá-los do amor táctil / Que votamos aos maços de cigarro”. Posso substituir livros por discos, pois estes também possuem transcendência e amo-os – além, é claro do amor auditivo, do amor táctil, visual e olfativo (em alguns casos).
Podem me chamar de careta e fora de moda, mas para mim a música só é completa se estiver estampada em um meio físico, seja em CD ou em vinil.
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A facilidade que os meios eletrônicos atuais trouxeram ao ato de ouvir música é inegável. Temos acesso rápido a coisas inatingíveis há alguns anos, mas toda essa facilidade provocou, em minha opinião, uma banalização da apreciação musical. É a música fast-food, baixada hoje e excluída amanhã, geralmente descontextualizada e não permitindo uma apreciação global, quando existente, de suas qualidades e do pensamento de seus autores e intérpretes.
137 ANOS DE SOM GRAVADO
A invenção do fonógrafo de cilindro, por Thomas Edison, data de 1877. Começava ali a grande aventura do som gravado.
O próximo passo importante, dado em 1889, foi o advento do fonógrafo de disco, creditado a Emile Berliner, e chamado de Gramofone. Os discos desse período giravam a 78 rpm (rotações por minuto), feitos de goma-laca, material duro e pesado. As gravações eram mecânicas e contemplavam um espectro limitado de freqüência sonora, o que não impediu a rápida popularização do Gramofone.

Gramofone (Fonte: Wikipedia)
Gramofone (Fonte: Wikipedia)
A qualidade de reprodução dos discos deu um salto na década de 1920 com a introdução da gravação elétrica e o uso de amplificadores e filtros. No final da década de 1940 os discos começaram a ser fabricados em vinil, material mais leve, mais maleável e mais resistente que a goma-laca.
A introdução do vinil trouxe outro grande benefício: uma capacidade maior de armazenamento de som, já que os discos rodavam a 33 rpm.
O DISCO COMO OBRA DE ARTE
As possibilidades que a tecnologia do vinil abriu para os músicos foram imensas. Os primeiros a se beneficiar foram os músicos de jazz. Tinham agora o espaço disponível de 40 minutos (ou mais) que o LP (long play) proporcionava às suas improvisações – antes impossíveis de caber em menos de 10 minutos dos antigos 78 rpm.
Os músicos de jazz foram também pioneiros – ainda na década de 1950 – no cuidado artístico com as capas que embalavam suas gravações. Voltamos, então, à discussão do início desse artigo: não bastava agradar os ouvidos dos fãs, mas também seus olhos e mãos.
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Disco colorido do Mars Volta, que pensei estar sujo de talco.
O pop e o rock demoraram um pouco mais para embarcar nesse mundo fascinante, baseavam, então, seus lançamentos em compactos (não confundir com compact disc) ou singles (discos menores, com 2 ou 4 músicas) que rodavam a 45 rpm ou 33 rpm (no caso do Brasil). Os LPs serviam, nesse caso, como coletânea de músicas já lançadas.
Foi preciso esperar até o início da década de 1960, e por artistas como Bob Dylan e os Beatles, para que o LP fosse alçado ao status de obra de arte planejada e executada como tal. O esquema de lançamento se inverteu: primeiro era lançado o LP, e depois os compactos (singles) com músicas extraídas do álbum.
Foi esse fascínio fetichista que me conquistou na adolescência e nunca mais me largou, e que me incentiva a escrever os textos da seção “Discos Nota 11”.
COMPACT DISC – CD
No final da década de 1980 chegou ao mercado o CD de leitura ótica, com a promessa de mais praticidade, resistência e qualidade sonora. Pois bem, a praticidade sacrificou o visual: de 30 cm de diâmetro do LP para os 12 cm do CD. A resistência é uma verdade parcial, pois um LP bem cuidado pode durar muito mais que um CD. Quanto à qualidade há controvérsias e depende muito da qualidade de gravação, mixagem e masterização. Os meus CDs (em edições especiais) do Pink Floyd e do Led Zeppelin têm som muito melhor que as edições nacionais em vinil, já a primeira edição dos discos dos Beatles em CD é inferior aos lançados em LP.
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Arte: Arnaldo Branco (g1.globo.com)
ALGO EM COMUM
Atualmente, após chegar ao ponto de quase extinguir minha coleção de LPs, voltei a adquirir discos de vinil (tanto novos, quanto usados) sem, no entanto, me desfazer dos CDs.
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Voltando à música do Caetano que abre esse texto e lembrando de uma antiga propaganda de cigarros na TV: Eu não abro mão do prazer dos meus discos. Se o seu prazer é som digital hi-tech, virtual e portável, tudo bem, “cada um na sua, mas com alguma coisa em comum”: o gosto pela música!
O AMOR TÁCTIL PELOS DISCOS EM FILMES
“Alta Fidelidade” (EUA) – O personagem principal é dono de uma loja de discos.
“Durval Discos” (BR) – O personagem principal é dono de um “sebo” de discos. Rita Lee faz uma ponta no filme.

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