SURPRESAAAA...!!

Por Wagner Felipe Filho*

Tem coisas que você só percebe depois de comprar o carro...

Existem pessoas que adoram novidades ou surpresas na vida. Outras gostam de saber de tudo através da mídia, dos amigos ou mesmo de uma personalidade respeitável. Mas antes de fechar um negócio, seja de um usado ou mesmo na loja, com direito a “cheirinho de novo” e aquela atenção especial na hora da entrega, o comprador de um carro se acha preparado e confiante de que está fazendo um ótimo negócio. Mas nem sempre é assim... Tem coisas que não são ditas pelo vendedor, ou ainda pior – você não percebeu nem mesmo no momento do test-drive... Me lembro quando minha irmã foi comprar seu Fiesta Supercharger 2002/2003 – lindo ! Na cor preta, completinho e ainda, o lançamento do ano da Ford. Na hora de sentir o gostinho pela primeira vez, nem eu, nem minha irmã, percebemos dois detalhes que somente ao longo do tempo qualquer pessoa perceberia: primeiro deles: aquele zunido quase que insuportável do compressor dentro do motor, o tal “Supercharger”... Que coisa mais chata...! Segundo detalhe: a anatomia dos bancos dianteiros muito retos e que não segurava ninguém nas curvas... Sem falar no quanto o carrinho ficava fraco numa saída de semáforo quando estava com o ar condicionado ligado – ele quase apagava...

 

Quem tem mais de 30 anos deve se lembrar da velha e macia Ford Pampa. Derivada do Corcel, Trazia a mesma estrutura mecânica e de acabamento, com direito até mesmo a versão de luxo como a Ghia, herdada dos saudosos Del Rey e Belina. Mas a Ford teve a indecência de lançar em seu portfólio sua picapinha sem a direção com assistência hidráulica de série, sendo opcional até mesmo na versão intermediária, “GL”. Só quem foi dono de uma Pampa sem direção hidráulica e com banco inteiriço (apreciada por acomodar 3 pessoas) é que sabe o sofrimento que era manobrar uma máquina dessas que pesava nada menos que 1100 quilos – lembrava e muito, a Toyota Bandeirante...

Nas trocas de carro que já fiz na vida e nas encaradas que já dei em vários carros por onde andei, vi coisas muito interessantes, no Brasil, quer ver?  Lembra do falecido Tempra? A Fiat surpreendeu a todos, primeiramente por lançar um carro com aquele “traseiro” daquela altura, e, para os donos dos modelos 1992 a 1994, de mimo da época ganhavam um prática lanterna que vinha embutida no porta-luvas. Vinha acompanhada com um cabo de longo alcance para as situações de trocas de pneus e perdas de pequenos objetos no interior do carro. Mas a partir do modelo ´95, este item sumiu com o novo modelo, de painel totalmente redesenhado, mais moderno e atraente – é verdade. Atualmente, a Peugeot e Citroën oferecem uma lanterninha auto carregável no SUV 3008 e C4 Picasso, respectivamente. Lembro-me de como era chique dirigir meu Ford Mondeo ´98 à noite, quando, ao ligar os faróis, além das várias luzes verdes do painel, haviam quatro luzes espia em cada uma das maçanetas das portas – não tinha um passageiro de primeira viagem que não comentava a novidade... E o ponteiro marcador de combustível que não voltava à escala de “vazio” quando desligava o carro... Lembra do tradicional “rangido” da marcha-a-ré? Foi o primeiro e único carro que conheci que não fazia um ruído sequer. Isso, ninguém me falou quando comprei o carro... Nem mesmo agora, quando conseguir pôr na garagem meu Fusion 2.5, com sete cores a escolher que ilumina o porta-copos e as pernas dos passageiros – quem adora mesmo é o meu filho que a cada dia escolhe uma cor. Sem se esquecer das sete velocidades do limpador de para-brisas. Em contrapartida, o quanto ele tem os para-lamas laterais dianteiros baixos...

Em 2007 precisei alugar um carro até chegasse um outro que havia encomendado. Aluguei por um mês, um Celta. Era um 2006/2007 daqueles bem peladinhos mesmo, não tinha nem vidros verdes. Mas tudo bem... quando saí com o bichinho da locadora, não demorou muito para que eu percebesse que o volante era acentuadamente torto pra esquerda... pensei: “meu Deus, esse carro vir com esse defeito de fábrica?!” Mas não é que depois fui entender o que a Chevrolet queria proporcionar com aquilo – o volante voltado à esquerda facilita o apoio do braço do motorista, que põe o cotovelo na porta e consegue segurar o volante com relativa tranquilidade. Por falar em GM, ligar o som do meu Vectra 2008 era algo considerado eticamente correto na visão da minha esposa – ele sempre iniciava a transmissão do som com um volume sutilmente baixo; nunca no volume que você o desligou na última vez – você não levava sustos dentro do carro... e isso só descobri, de novo, depois de ter tirado da loja... bem como o quanto ele amava beber álcool...

Nunca que poderia esquecer meu primeiro carango: Um Fiat Uno Electronic ´94, 4 portas, vermelho perolizado, já saindo da concessionária com jogo de rodas Mangels, faixas laterais e tampa do porta-luvas – tudo adquirido na loja, pra ficar feliz desde o primeiro dia... Tudo bem... o meu “Fiêt” era bonitinho mesmo, apesar dos bancos em curvim e a buzina na seta de direção no lado esquerdo... mas aquela tampinha do meu do volante caindo o dia inteiro no meio das suas pernas a cada buraco, ninguém merecia...! Mas tinha uma coisa que era um barato na linha Uno e seus derivados: o cinzeiro basculante no painel central, que era recolocado aonde o motorista ou passageiro quisesse. Cogitaram tirar o servo-freio do Uno Mille em 1990, ano do lançamento, mas não o cinzeiro.

Certa vez, na virada de 2010 para 2011, quase que me deixo seduzir pela novidade da perua da Hyundai, a i30CW. Bonita, elegante, acabamento refinado, levemente cara, mas... comecei a procurar a coreana nas ruas... Nada de i30CW... só via o i30 hatch, mesmo que na ditadura da Hyundai de só importar seus carros nas cores prata e preto. A vendedora me perturbou por 3 semanas... Fico pensando até hoje se tivesse embarcado numa dessas... Vender as pressas? Valor de revenda? Infelizmente esqueça... Como a maioria das marcas que não são as 4 tradicionais (leia-se Fiat, Ford, Chevrolet e Volkswagen), a desvalorização de alguns modelos após um ano de uso pode chegar a espantosos 40%...!

Você gosta de cores exóticas? Amarelo (do VW Golf ou do Fiat Palio), laranja (do VW Crossfox ou Fiat Uno Sporting), aquele verde cor de sabonete do novo Uno 2010? Então saiba que vai ter de “garimpar” um outro dono exótico e corajoso para o seu carro. A maioria das pessoas  se cansam de cores inusitadas ou berrantes e tem medo de perder dinheiro...

Agora, vou te dar só um conselho sobre carros com câmbio automático: Saiba que para ter o luxo de não usar a perna esquerda é melhor comprar um carro que tenha motor compatível com esse câmbio. Carro automático tem de ter motor. Você não precisa levar pra casa um carro com motor mínimo de 2 litros. Se for um 4 cilindros, escolha um que tenha 16 válvulas – a arrancada e retomada são bem melhores. Se o câmbio for de 5 marchas ou mais, ótimo! Ele vai gastar menos e vai andar sempre em baixo giro do motor – e a maioria dos donos ignoram a falta do modo sequencial. Mas o bom mesmo é um 6 cilindros que tem força de sobra, e, dependendo do modelo, sede de avestruz... mas isso você saberá mesmo é depois que assinar o cheque... e fazer as contas do mês com o posto de gasolina!

Se você detesta levar sustos ou ter surpresas sem volta, o melhor a fazer é conversar com vários donos do carro que deseja ter. Leia revistas, jornais, navegue em sites especializados, assista aos vários programas de carro que existem na sua cidade. E mesmo assim, experimente antes e com calma para dar o aperto de mão final.

*WAGNER FELIPE FILHO é contador por formação, observador e um apaixonado por carros desde que nasceu.